29.4.12

A casa está vazia.


Hoje o dia amanheceu diferente de qualquer outro, que havia vivido neste meus quase 19 anos de vida. O céu acinzentado e uma brisa fresca vieram ao meu encontro, eu sai e não muito tempo depois estava de volta a minha casa, que estranhamente estava quieta naquela manhã.
Não havia ninguém me observando na porta de entrada, não havia passinhos com o arranhar de unhas no chão, nem o abanar de um rabo alerta. Procurei em sua casa e lá ele não estava, entrei em casa e me veio a noticia que todos aqueles anos, toda aquela pelagem branca em um foucinho envelhecido havia fechado os olhos para sempre.
Lagrimas, silêncio e um abarrotado de lembranças tomam a minha mente.

Me lembro de quando aquela patinhas pela primeira vez pisaram em minha casa, eufórico, curioso e alegre; sem esquecer desconfiado. Demorou muito tempo até perdermos o medo daquele que era um completo cachorro bobão, tão lindo quanto aqueles cachorros de comercial de ração.
Pelagem de um amarelo dourado quase um caramelo, patas, peito e barriga branca e um foucinho cá muito frio e carinhoso.
Ele sempre se metia em confusão como a primeira vez que foi pego pela carrocinha passeando sozinho duas quadras de distância da nossa casa; há nego. Foi um susto quando a mãe de minha amiga Luma foi me buscar na escola. Quando soube que ele havia sido pego, chorei, chorei todas as 20 quadras até a minha casa. 
Meu pai foi busca - lo, teve que pagar exatamente R$ 30. pelo cachorro lá não muito bonito, que por pouco não pronunciava palavras de agradecimento por ter sido resgatado daquele horrível lugar.
Lembro me das duas vezes em que ele fugiu durante os fogos de artificio na festa junina que havia anualmente na minha rua, ele corria em disparada em uma direção qualquer e depois de 6 ou 8 horas ele voltava. Colocava seu foucinho no portão e dava um latido para avisar que estava ali esperando que o portão fosse aberto para que ele pudesse entrar.
Me lembro de todas as vezes que tive que leva - lo na rua para fazer suas necessidades e de como o coco dele era fedido. Da vez em que estava recolhendo o torpedo dele do chão e um homem gritou de dentro do carro em movimento : - CAGÃO ! 
Minha vontade na hora foi de xingar aquele homem, mas eu poderia ter dito também : - Verdade cara, e esse aqui esta mais fedido que os outros ! De como ele me puxava no meio da rua, com a ansiedade de chegar próximo ao poste, de como tinha que fazer força para segura - lo quando havia um cachorro no outro lado da avenida.

Me recordo de como ele amava a comida da minha mãe mesmo as ruins, de como ele a respeitava, nunca adentrando  mais que o suficiente na porta de sua cozinha. Na hora da comida , ele pronunciava palavras como '' AUN, AO, HUM, AAAO '' ; conversa essa que só existia com a minha mãe. 
A época que eu era encarregada de dar o banho semanal era uma chatice, mas agora vejo que era até engraçado como ele ficava magrelo e esquisito todo ensaboado e como ele gostava de sacudir toda aquela aguá em cima de mim.
Sempre quando havia festas de aniversario ou pizza em casa, tínhamos o prato do Nego com todos os restolhos de pizza e bolo que ninguém comia, batíamos o pote dele no chão e ele já vinha correndo após uma longa tarde dormindo em qualquer canto do corredor.

De todas vezes que ele foi ao veterinário, que foram poucas mais aterrorizantes para ele. A primeira que me lembro foi quando acordou com a cara tão inchada que parecia que ele havia mudado de raça, minha mãe teve que desbloquear as pressas um cartão de crédito que nunca havia usado só para pagar os remédios do tratamento.
De todas as vezes que ele entrou dentro de casa com medo dos fogos de artificio ou trovões, de como ele quase derrubou a arvore de natal com medo que estava sentido.
Do tempo que minha mãe permitiu que ele entrasse e ficasse sempre no mesmo lugar para não sujar a casa toda e lá ele dormia o tempo todo, as vezes sim e outras não , claro. 
Ninguém imagina o quanto o nego era fedido, o quanto meu pai teve trabalho com pulgas, carrapatos e sarnas, de como ele gostava de cheirar e até lamber meu pé, do tanto de tombos que ele já levou, das brigas com gatos, do quanto ele era chato, o quanto ele envelheceu de uma hora para outra.E principalmente a dor que ele deixou os nossos corações sentindo no dia em que o dele parou de bater.

Nego, para mim você nunca foi um cachorro e sim uma pessoa que entendia cada palavra que eu dizia, que me foi amigo quando eu chorava, chato nas horas desnecessárias e principalmente leal e protetor. Você conheceu a maioria das pessoas que eu amo neste mundo e cheirou todas elas, como se conferisse se cada uma tinha o amor suficiente para viverem em minha vida e eu te agradeço por todos os dias que você me esperava chegar da escola na porta e por ser a minha unica companhia quando a casa estava vazia.Te amo !



Em memoria do melhor cachorro que pode existir no mundo
Nego ( 29/04/2012)


Ana.Carol.Caska
Dona e autora



Um comentário:

  1. Sem muito o que dizer. Chorei com o seu post, Carol. Meus pêsames e boa sorte daqui pra frente. Lembre-se dele como ele era, porque ele vai se lembrar de você, da maneira que você era.

    Talvez o único que conseguisse farejar seus sentimentos de verdade.

    Fique em paz, Nego.

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